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Alegrias e angústias de partilhar um apartamento (e a vida) com o nosso fiel amigo

Foto do escritor: Marco Moura MarquesMarco Moura Marques

Hmm... É verdade que o título deste artigo pode dar azo a um segundo (e terceiro) sentido sobre a temática abordada… Mas esclareço aqui que o amigo em consideração... é um CÃO.


À data em que publico este artigo comemora-se, um pouco por todo o Mundo, o Dia Mundial do Cão. É a data (tão boa como outra qualquer) utilizada, um pouco por todo o Mundo, para assinalar algo tão importante como a existência de um animal que a humanidade domesticou há já muitos séculos e que se tornou um ‘fiel amigo’ do ser humano.


Casal com cão
Image by lookstudio on Freepik

No entanto, existe uma enorme variedade de raças e cruzamentos, com os seus diferentes tamanhos, pesos, comportamentos e necessidades, de tal forma que, muitas (demasiadas) vezes não são tidas em conta pelos seus donos ou tutores na hora de os acolherem e partilharem a sua vida diária com eles. É muito comum termos agregados familiares com cães dentro de casa, seja esta uma moradia com amplo espaço exterior privado, seja um apartamento no meio de uma cidade, sem qualquer terraço ou varanda.


Como me tenho deparado com múltiplos clientes que partilham as suas habitações com estes nossos fiéis amigos, quis e quero aprofundar o conhecimento sobre as implicações de ter um cão dentro de casa e sobre qual a melhor atuação que os seus cuidadores devem ter para proporcionar a todos (humanos e animais) uma vida saudável e harmoniosa.


Para tal recorri (novamente) a uma conversa com a Dr.ª Daniela Nunes Simões, médica veterinária há 10 anos, responsável por um consultório veterinário em Matosinhos. Deixo-vos aqui uma transcrição dessa conversa:


Marco Moura Marques (MMM): Olá, Daniela! Muito obrigado, uma vez mais, por acederes a ter esta conversa comigo e me permitires que a partilhe com quem me segue, lê e ouve.


Daniela Nunes Simões (MMM): Olá, Marco! Eu é que agradeço o convite e a confiança. É um prazer poder partilhar a minha experiência e conhecimento sobre ‘o melhor amigo do Homem’, o qual terá nos próximos dias, uma data especial a celebrar que lhe é consagrada.


MMM: Pois, a escolha da data desta nossa conversa não é aleatória. Quis aproveitar a oportunidade da celebração do Dia Mundial do Cão para te colocar algumas questões. Posso avançar?


DNS: Força!


MMM: Então aqui vai… Sabemos todos nós que existem muitas e muitas famílias que têm cães a seu cargo. E porque as estatísticas recentes para aí apontam, atrevo-me a dizer que nos grandes centros urbanos se tem verificado um aumento do número médio de cães por agregado familiar. Algo justificará isto, decerto. Daí que te pergunte: quais as vantagens reconhecidas de ter e cuidar de um cão?


DNS: Há estudos que nos dizem que a convivência próxima com cães diminui a probabilidade de virmos a sofrer de depressão ou de doenças cardíacas. Eles ajudam a combater a solidão e o sedentarismo e são animais sociais que podem, num passeio à rua, por exemplo, fazer-nos interagir mais facilmente com quem nos rodeia.


MMM: Percebo. E sabendo isso, faz sentido ou, dito de outra forma, podemos ou eventualmente devemos ter um ou mais cães num apartamento?


DNS: A resposta normalmente é: sim, podemos. É perfeitamente possível. Contudo, assegurar o seu bem estar é responsabilidade dos seus donos ou tutores. O acesso a alimentação, água, cuidados veterinários, faz parte dessa responsabilidade, mas também nela se inclui o cuidar que se mantenha feliz e estimulado, com acesso regular a espaços onde possa exercer a sua condição de cão. Farejar à vontade, por exemplo.


MMM: Então qualquer cão pode viver feliz num apartamento?


DNS: Bem, é uma resposta difícil de dar de uma forma, digamos, fechada. Viver num apartamento não significa apenas ter menos espaço, significa também que os estímulos vão ser menores ao longo do dia. Isto em comparação com viver numa moradia com jardim, por exemplo, onde provavelmente conseguem mais facilmente observar outros animais e se movimentam com maior liberdade.


MMM: Sendo o espaço um problema, então significa que um cão pequeno se adapta melhor a um apartamento?


DNS: Na minha opinião a adaptação pode não ter tanto a ver com tamanho e raça, mas sim com o temperamento do cão, com a atividade física que possa desenvolver e com a nossa própria disponibilidade para cuidar adequadamente dos estímulos mentais e físicos que um cão necessita. Claro que este tempo e este nível de atividade vai depender de cão para cão, mas não necessariamente em função apenas do tamanho.


MMM: E o que é que implica essa disponibilidade dos donos ou tutores?

DNS: Implica, habitualmente, mais tempo dedicado com o cão no exterior e em exploração dos espaços envolventes. Ora isto numa moradia será, em teoria e na prática, mais fácil. Mas viver em apartamento com um cão em nada impede os tutores de proporcionarem isto mesmo aos seus cães ou seja, disponibilidade para estarem e interagirem com eles. Dentro de casa esta interação do cão com o mundo em redor fica apenas mais limitada e dependente de nós, para que esta parte fundamental da sua vida seja saciada.


MMM: E a raça de um cão? É também um fator que condiciona a sua maior ou menor adaptação a viver num apartamento?


DNS: Quando adotamos um animal de raça definida sabemos que, à partida, tem maior probabilidade de adotar determinados comportamentos. Logo, sim, a raça pode influenciar a forma como o cão se adapta à nossa vida. Mas quer no caso de cães de raça definida, quer de raça indefinida, o nosso trabalho desde o início deverá ser o de estabelecer a relação que queremos ter com o nosso cão, bem como estabelecer as rotinas e a previsibilidade que sabemos conseguir manter. Isto vai ser o mais importante para criar um cão equilibrado, seja em que circunstâncias for.


MMM: A rotina é importante?

DNS: Sim, muito. Cães diferentes vão precisar de espaços diferentes, rotinas diferentes, mas precisam sempre de uma rotina e muita previsibilidade. É importante, por exemplo, que os passeios sejam diários, mais ou menos à mesma hora e com a mesma duração. Isto dá-lhes segurança para explorarem mais e confiarem mais em nós.


MMM: É recomendável ou preferível que o cão esteja sempre acompanhado no apartamento onde vive?

DNS: Não, pelo contrário. A verdade é que a maior parte dos cães tem vários períodos de descanso durante o dia, os quais alternam com períodos de menor ou maior atividade. É muito importante que saiba estar tranquilo e relaxado desacompanhado, mesmo que os seus tutores estejam sempre em casa, deve haver criação dessa distância e de espaços independentes.


MMM: Como fazer então?


DNS: Além dos períodos de descanso em casa, em lugar próprio e com sossego, devemos cultivar momentos para que expresse o seu comportamento normal de farejar, escavar, interagir com o meio exterior. Daí que a vivência numa moradia possa ser mais fácil e não tão dependente da nossa presença. Se não cultivarmos esses momentos, corremos o risco de o cão adotar comportamentos de ansiedade e frustração, com provável destruição de objetos à sua volta, sempre que se encontrem sozinhos. Cães diferentes vão ter níveis de intensidade, energia e curiosidade diferentes, por isso é importante adequarmo-nos a cada caso.


MMM: Podes partilhar algumas dicas?


DNS: Sim. Como já abordamos, a rotina deve ser constante quando se trata de alimentação, passeios, exercício, descanso… É importante que os passeios não sirvam apenas para as necessidades higiénicas, mas que seja permitido ao cão, todos os dias, um período de exploração no exterior e até o convívio com outros cães em clima amistoso. Por outro lado, em casa, é importante disponibilizar algo para que os cães possam mastigar e roer. Este é um comportamento natural e anti-stress que deve ser cultivado e direcionado para longe da mobília e do calçado. Existem brinquedos, snacks, dispensadores de alimento apropriados a esta função e que permitem algum estímulo mental que os vai deixar mais tranquilos e saciados.


MMM: Num apartamento podemos também ter problemas com os vizinhos, caso o cão provoque barulho excessivo.


DNS: Sim e é um problema frequente, infelizmente. Mas ladrar e uivar são uma das formas de comunicação do cão e é difícil evitar em absoluto. No entanto, se ocorrer em excesso poderemos ter de investigar as causas. Estas podem ter origem, por exemplo, em ver outros animais a passar na rua e considerar esta uma extensão do seu território. Ou poderá ser uma manifestação de ansiedade por se encontrar sozinho em casa e não saber gerir a situação de outra forma.


MMM: E o que fazer nesses casos?


DNS: Nesses casos recomendo sempre uma conversa dos donos ou tutores com o médico veterinário para que, em conjunto, tentem chegar à origem do problema. O médico poderá aconselhar o melhor caminho a seguir, o qual pode passar por treinos do cão, adaptação do seu espaço, adoção de rotinas ou alteração para melhores rotinas, etc. Ou até mesmo a marcação de consulta com um especialista em comportamento e medicação ansiolítica, em alguns casos. Existe algo que, em muitos casos, ajuda o cão e que nas cidades é uma prática mais ou menos generalizada, que é a ida do cão para uma “creche” alguns dias por semana. Aí o cão tem possibilidade de correr, brincar, socializar e libertar alguma energia excessiva acumulada.


MMM: Mudando agora um pouco o tema: há alguma obrigatoriedade legal que decorra da presença de cães em apartamentos?


DNS: Sim. Há a obrigatoriedade de identificação eletrónica de cães, gatos e furões através de um microchip. E, no caso dos cães, há ainda a vacinação anti-rábica. Há também uma limitação legal ao número de animais possíveis de coabitar num apartamento. Ou seja, e referindo-me apenas aos animais domésticos mais frequentes, poderão coabitar 3 cães ou 4 gatos, ou então um total de 4 animais. Em casos especiais este número pode estender-se aos 6, nomeadamente nos prédios rústicos ou mistos. Mas, atenção, que no caso de apartamentos o regulamento do Condomínio pode estabelecer um número inferior ao previsto na Lei.


MMM: Ah... não tinha consciência disso. E qual é a Lei que estipula esses limites e casos especiais?


DNS: Bem... podes consultar esta informação em pormenor no Decreto-Lei 314/2003.


MMM: Mas os Condomínios não podem proibir animais nos apartamentos, certo?


DNS: Certo. Essa liberdade está consagrada na Lei. No entanto, podem estipular regras e limitações no que tem a ver com a circulação de animais nas áreas comuns dos prédios, condições de higiene, ruído, etc.


MMM: Bem... depois de ouvir de ti tudo isto e pensando em algumas realidades de que me vou apercebendo, aqui e ali, pergunto: é possível ter cães felizes em apartamentos?


DNS: Sim, claro que é possível. É possível ter cães felizes em quase todas as situações, basta providenciar os cuidados necessários e respeitarmos a sua natureza de cão, adequando as nossas rotinas para os incluir. Se o fizermos, eles devolvem-nos em triplo o amor e o respeito que lhes dermos.


MMM: Devolvem-nos em triplo o que lhes dermos... Daniela, vou aproveitar para encerrar a nossa conversa com tudo o que simboliza essa frase. Agradeço-te, uma vez mais, pela tua colaboração. Estou certo que os teus conselhos e comentários servirão de muito a muitas pessoas, quer as que já têm cães a seu cargo e cuidado, quer as que pensem em vir a ter e desejam receber em triplo aquilo de que tu falas.


DNS: O prazer foi meu e eu é que agradeço por poder partilhar um pouco do que conheço do comportamento e necessidades destes bonitos animais e que tanto nos dão.


Daniela com cão

Em jeito de conclusão deste artigo, e já fora do contexto desta conversa a dois, deixo aqui uma confidência que entendo dever fazer: partilho a minha vida com a Daniela há já 7 anos e com a Tocha, a nossa gata, felina, fofa e felpuda, há praticamente o mesmo tempo. Quer eu, quer a Daniela, separadamente, já tivemos cães nas nossas habitações. Na minha vida adulta decidi não voltar a ter cães a meu cuidado, precisamente por considerar não possuir o espaço, a disponibilidade e as rotinas necessárias para fazer um cão feliz na minha companhia. Já a Daniela viu, ajudou a crescer e acompanhou toda a vida do Dick, um Labrador negro, de pêlo curto. E desde que mudou de casa, para uma vida comigo, entregou o Zek, um enérgico macho cruzado de boxer, aos seus Pais (com quem ele vive muito bem), exatamente por não ter o espaço, a disponibilidade e as rotinas necessárias para o fazer feliz. Mas um dia, acreditamos, teremos as condições necessárias para juntar um 'fiel amigo' à família!


Se necessitar de conselhos adicionais sobre esta temática e/ou se estiver a planear mudar de casa, não hesite em contactar-me: Marco Moura Marques +351 967035966 marcomouramarques@kwportugal.pt

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