Num contexto de incerteza económica e desafios em prever a evolução do mercado imobiliário, enfrentamos ainda um desafio mais profundo: a crescente desconexão entre o ser humano e a natureza. Manifestações públicas ecoam preocupações sobre as necessidades básicas dos indivíduos, sublinhando a urgência de abordar esta questão.

Os dados indicam que passamos cerca de 90% do nosso tempo dentro de edifícios, o que realça a importância do ambiente construído na nossa saúde e bem-estar. Contudo, a natureza, uma constante mesmo em tempos de incerteza, continua a oferecer-se como uma fonte inexplorada de conhecimento e cura.
O sector imobiliário detém o poder de influenciar esta dinâmica. Com o design consciente e práticas inovadoras, pode não apenas oferecer abrigo, mas também facilitar uma experiência enriquecedora que nutre a nossa conexão com o ambiente natural.
O ritmo acelerado da urbanização em Portugal e além-fronteiras colocou a natureza à margem das nossas vidas quotidianas. Contudo, o recurso à biofilia, a integração harmoniosa de elementos naturais no design de edifícios, apresenta uma oportunidade para reverter esta tendência.
Quais os exemplos Práticos da Reconexão através do Sector Imobiliário?
a) Jardins Verticais e Telhados Verdes:
Uma solução prática que tem ganho popularidade em cidades ao redor do mundo são os jardins verticais e os telhados verdes. Estes não só proporcionam um respiro visual em meio à selva de betão, mas também ajudam a regular a temperatura interior dos edifícios, reduzindo assim os custos com ar condicionado e aquecimento. Além disso, contribuem para a biodiversidade urbana, atraindo aves e insetos benéficos.
b) Construção com Materiais Sustentáveis:
Usar materiais de construção eco-friendly, como madeira de fontes sustentáveis, tijolos de terra crua e técnicas tradicionais, pode ajudar a minimizar o impacto ambiental do sector imobiliário. Estes materiais não só reduzem a pegada ecológica da construção, mas também trazem a sensação da natureza para dentro das casas e edifícios.
c) Planeamento Urbano Integrado:
Em vez de construir novos bairros e edifícios isolados da natureza, o sector imobiliário pode promover o desenvolvimento de comunidades integradas que incluam espaços verdes, zonas pedonais e áreas de lazer. Estas áreas, se bem planeadas, podem servir como corredores ecológicos, facilitando a movimentação da fauna e contribuindo para a sustentabilidade da flora local.
Estas soluções que colocamos aqui parecem dispendiosas e caras. Como podemos tornar acessíveis em termos económicos, a nível da construção?
Este é um desafio, tornar estas soluções economicamente acessíveis. A inovação em materiais e técnicas, apoiada por incentivos governamentais e uma sociedade educada sobre os benefícios a longo prazo da sustentabilidade, pode ser a chave.
A questão da acessibilidade económica é crucial para tornar as soluções sustentáveis e eco-amigáveis mais prevalentes no sector imobiliário. A aplicação prática de métodos de construção ecológicos não deve ser um luxo, mas sim uma norma acessível. Aqui estão algumas estratégias para reduzir os custos associados à integração da natureza no design e construção imobiliários:
1. Inovação e Eficiência nos Materiais e Técnicas de Construção:
a) Pesquisa e Desenvolvimento:
Investir em pesquisa e desenvolvimento para inovar materiais e técnicas que sejam tanto ecológicos quanto economicamente eficientes.
b) Economia de Escala:
Aumentar a produção de materiais sustentáveis para reduzir os custos unitários, tornando-os competitivos em relação aos materiais convencionais.
2. Incentivos e Apoios Governamentais:
a) Subsídios e Incentivos:
Implementar subsídios e incentivos fiscais para encorajar a adopção de práticas de construção ecológicas.
b) Legislação Flexível:
Revitalizar a legislação para facilitar a aprovação e implementação de projectos sustentáveis.
3. Formação e Educação:
a) Formação Profissional:
Oferecer formação aos profissionais do sector para capacitá-los em técnicas de construção verde, reduzindo assim os custos de mão-de-obra especializada.
b) Educação Pública:
Educar o público sobre os benefícios a longo prazo das construções ecológicas, aumentando a demanda e incentivando a inovação e a redução de custos.
4. Desenho Inteligente:
a) Multifuncionalidade:
Criar designs que integrem várias funções, aproveitando ao máximo o espaço e os materiais disponíveis.
b) Adaptação e Reutilização:
Fomentar a adaptação e reutilização de estruturas existentes para reduzir os custos e o impacto ambiental das novas construções.
5. Parcerias e Colaborações:
a) Parcerias Público-Privadas:
Estabelecer colaborações entre o governo, empresas e ONGs para compartilhar conhecimentos, recursos e riscos.
b) Redes de Colaboração:
Construir redes de colaboração para partilhar inovações e práticas eficientes na indústria.
No seu conjunto, estes esforços contribuem para uma redução significativa dos custos iniciais e operacionais, tornando a construção ecológica acessível e atraente para um espectro mais amplo de sociedade.
Ao adoptar uma abordagem multifacetada que combina inovação, política, educação e colaboração, é possível não só reduzir os custos associados à construção ecológica mas também acelerar a transição para práticas de construção mais sustentáveis e acessíveis. Isso não só beneficia o sector imobiliário e os ocupantes dos edifícios mas também contribui significativamente para a preservação e revitalização do nosso precioso ambiente natural.
Em suma, a jornada para um futuro onde o sector imobiliário serve como uma ponte entre o ser humano e a natureza é intrincada, mas possível. Requer uma reavaliação profunda de como concebemos, construímos e habitamos os nossos espaços. Com uma abordagem equilibrada que integra inovação, educação e colaboração, podemos transformar os nossos edifícios de meros abrigos para espaços que nutrem e revitalizam, celebrando a harmoniosa interconexão entre o ser humano e a natureza.

Uma última nota, porque somos parte da Natureza e esta é uma fonte inestimável de conhecimento.
A nossa discussão centrou-se na desconexão persistente entre o ser humano e a natureza, uma situação exacerbada pela vida moderna urbanizada e acentuada pelas actuais incertezas económicas. Esta separação não apenas nos priva dos benefícios psicológicos e físicos intrínsecos à interação com a natureza, mas também limita a nossa capacidade de aprender com ela.
Para aprofundar a ideia de que a natureza é uma fonte de conhecimento, podemos explorar como as suas qualidades intrínsecas – resiliência, adaptabilidade, e eficiência – podem ser emuladas em design arquitetónico e planeamento urbano. A natureza, com a sua habilidade inata para criar ecossistemas equilibrados e sustentáveis, serve como um modelo ideal para criar ambientes construídos que são não apenas funcionais, mas também integrados harmoniosamente com o mundo natural.
Em essência, esta nota reforça que: a natureza é, de facto, um repositório profundo de conhecimento. Ao buscar inspiração na sua sabedoria intrínseca, podemos não só mitigar a desconexão entre o ser humano e o ambiente natural, mas também navegar com mais confiança através das incertezas económicas, criando espaços que são sustentáveis, economicamente viáveis e, acima de tudo, promotores de uma relação mais profunda e enriquecedora com o mundo natural que nos rodeia.
Num mundo onde os edifícios e arranha-céus dominam as nossas vistas e a natureza muitas vezes é relegada para segundo plano, surge uma oportunidade única e empolgante. Uma oportunidade onde o sector imobiliário não é apenas um construtor de estruturas, mas um elo vital na redefinição da nossa relação com o mundo natural.
Imagine um espaço onde cada tijolo, janela ou jardim é desenhado não apenas com o propósito de abrigar, mas também de conectar, de respirar vida e de incorporar a essência vibrante e dinâmica da natureza. Este é um cenário onde a casa não é apenas um lugar para viver, mas uma experiência viva, uma jornada de reencontro diário com a natureza.

“A natureza é uma fonte de conhecimento.” Esta afirmação não é apenas poética, mas profundamente prática. Cada folha, árvore ou pingo de chuva conta uma história de equilíbrio, harmonia e inovação. A forma como as plantas se adaptam, como os ecossistemas se equilibram e como cada elemento da natureza funciona em uma dança meticulosa de eficiência e beleza, oferece-nos lições valiosas.
Agora, visualize um mundo onde o sector imobiliário assume o papel de um aprendiz humilde e inovador, onde cada projecto de construção é uma oportunidade para integrar estas lições. Um mundo onde as casas são concebidas para serem não apenas estruturas, mas ecossistemas; não apenas residências, mas refúgios de biodiversidade e harmonia.
"O sector imobiliário pode motivar a ligação entre o Ser Humano e a Natureza." Nestas palavras, encontramos uma ponte, um caminho que nos conduz de estruturas impessoais para lares vibrantes, de cidades congestionadas para comunidades florescentes, onde cada espaço construído é um convite para abraçar a natureza.
Neste diálogo entre construção e natureza, entre habitar e viver, encontramos um futuro onde os edifícios são cânticos de respeito e admiração pelo mundo natural, e onde cada manhã não é apenas um despertar num quarto, mas num santuário onde a sabedoria da natureza encontra o seu lugar no coração da nossa experiência humana. Entre as paredes, janelas e jardins, descobrimos, aprendemos e crescemos, tecendo a tapeçaria de um amanhã mais conectado, consciente e vivo.
Apresentação do Autor do artigo:

Fernando Mendes Pinheiro nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1978.
É um verdadeiro inspirador/ pensador/ futurista sobre um mundo melhor. A sua formação de base é Arquitectura e atualmente é o arquiteto principal na sua empresa – a A43. Nos seus primeiros anos de Arquitectura, foi também professor da disciplina de projeto na Faculdade.
Tem sido convidado para várias palestras, em diversos temas, onde foca a sua visão essencialmente em dois elementos – a Natureza e o Ser Humano.
Comments