E viv'ó meu rico São João!
Deixas meus clientes risonhos.
Eu cá acendo-lhes o balão
E ajud' a cumprir seus sonhos!

São João. Festa popular das mais celebradas e participadas em todo o País. Celebração oficialmente consagrada a um Santo da Igreja Católica (mais propriamente, S. João Baptista, profeta, contemporâneo de Jesus Cristo, a quem batizou), mas com origem em festividades pagãs, de culto da fertilidade, em plena época de muitas e boas colheitas ao longo da História do Homem. Esta é a época do Solstício de Verão no hemisfério Norte (que habitualmente ocorre entre 20 e 22 de junho de cada ano), com o qual a festividade do São João está umbilicalmente ligada.
São João do Porto. Mas também de Gaia, Valongo, Vila do Conde e Braga. E de Angra do Heroísmo e Horta no arquipélago dos Açores. Ou Porto Santo no arquipélago da Madeira. Ou ainda, muito mais a sul, em Almada, Mértola, Alcácer do Sal e Tavira. Serão cerca de 34 municípios em todo o País que declaram o seu feriado municipal a 24 de junho. Mas em muitas outras povoações se celebra a devoção religiosa ao Santo, ou a entrada no Verão, ou ainda a fertilidade da terra e/ou do Homem.
O São João do Porto está presente nas minhas memórias de infância, de adolescente, e de jovem ou maduro adulto. Recordo as caminhadas intermináveis até às Fontainhas, eu bem menino, dando a mão aos meus Pais, maravilhado com tanta gente, tantas cores, tantos sons. Isto numa altura em que a festa se concentrava aí, na Ribeira e na Avenida dos Aliados… Recordo-a sempre como a festa mais “democrática” que conheço: toda a gente nas ruas, a pé, do mais jovem ao mais idoso, do mais pobre de meios ao mais endinheirado, do mais pobre de espírito ao mais intelectual e racional, casados, solteiros, brancos, negros, mulatos, homens, mulheres, gente de todas as cores e feitios de um arco-íris imenso… Recordo ruas apinhadas de gente, armada de pequenos e grandes martelos, de múltiplas cores, com eles despoletando sorrisos e gargalhadas, chiando e repicando constantemente sobre milhares e milhares de cabeças, numa interação permanente… Recordo os fogareiros acesos e o cheiro no ar de sardinha assada à hora de jantar… Recordo os balões de São João, pequenos pontos de luz sobrevoando o céu, outrora escuro, mas que nesta noite se ilumina com a luz de centenas de ‘pirilampos’ acesos pela mão do Homem…
Recordo o fogo de artifício que à meia-noite irrompe nos céus, troveja e desmaia sobre o rio Douro (outrora na Avenida dos Aliados) numa multiplicidade de formas e cores… Nesses momentos, recordo os pequenitos que, assustados e maravilhados, se aconchegam nos colos e se enroscam nas pernas dos Pais… E, recordo ainda, que essa noite acaba com todos regressando a casa. Uns logo a seguir ao fogo de artifício, outros prolongando um pouco mais a noite, outros ainda (os mais jovens) aventurando-se no cumprimento de mais uma tradição d’a noite mais longa do ano’: a caminhada até às praias da Foz do Douro ou de Matosinhos. Aí, em pares românticos ou em grupo, aguardam à luz e ao calor de fogueiras acendidas na areia, que o sol da manhã os abençoe e lhes diga que é altura de regressar a casa.
Recordo tudo isto… e esta noite, uma vez mais, saio para a rua, caminho e martelo os que comigo se cruzam, despoletando sorrisos e gargalhadas.
Até lá! Até já!
Marco Moura Marques
+ 351 967 035 966
marco@mouramarques.pt
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